Por Flaviane Aparecida Tereza
Segundo as considerações de Michel Foucault (1988), desde
a Idade Média, a confissão é considerada uma das maneiras mais importantes e
eficazes para que se produza a verdade. Assim, a confissão foi ampliando seus
efeitos e tomando novas formas em várias áreas como a justiça, a medicina, a
pedagogia, as relações familiares e amorosas. Quanto ao ato de confessar, às
vezes esse é executado por vontade própria e outras vezes se é forçado. Sobre a
questão da sexualidade, pode-se dizer que vivemos em uma sociedade que sofreu
muito e ainda sofre com o poder da repressão sobre o sexo, não raras vezes considerado
como pecado se praticado fora dos locais legitimados (casamento,
prostíbulos...).
No século XIX, essa associação do sexo ao pecado
pelas normas sociais era muito forte e a pessoa que se sentisse pecadora por
causa dos desejos carnais deveria então se confessar, ou a um amigo como forma
de aliviar a consciência, ou ao padre para então receber o perdão de Deus. Para
Foucault (1988), a Contra-Reforma se dedicou a aumentar as confissões, porque
tentou impor regras para o exame de consciência de si mesmo, atribuindo cada
vez mais importância à penitência como purificação do corpo em caso de
pensamentos impuros e desejos sórdidos. A confissão fica sendo, então, um
ritual em que se produz o discurso verdadeiro sobre o sexo. É também um ritual
que estabelece uma relação de poder, pois não se confessa sem a presença de
outro sujeito, o qual vai avaliar, julgar, punir ou perdoar aquele que
confessa.
O conto “Melhor do que arder”, de Clarice Lispector,
exemplifica bem essa questão do sexo reprimido e da confissão como alívio de
culpa. Madre Clara, a protagonista do conto, morava em um convento por
imposição da família, mas um dia se cansou de viver entre mulheres, confessou-se
a uma amiga e começou a se mortificar, ficando até doente.
Porém, nada acabava com seus pensamentos sexuais e com os seus desejos de ser mulher. Mesmo se confessando todos os dias e fazendo penitências, o desejo carnal era mais forte, ela não podia sequer olhar mais para o Cristo nu, e assim seus dias se tornaram sofrimento e angústia. Confessou-se ao padre que, indignado, disse que era melhor casar-se então, porque, segundo a moral cristã, o casamento é um lugar legitimado para exercer os prazeres sexuais. Ela então vai embora do convento e se casa, realizando seus desejos carnais que antes eram reprimidos.
Porém, nada acabava com seus pensamentos sexuais e com os seus desejos de ser mulher. Mesmo se confessando todos os dias e fazendo penitências, o desejo carnal era mais forte, ela não podia sequer olhar mais para o Cristo nu, e assim seus dias se tornaram sofrimento e angústia. Confessou-se ao padre que, indignado, disse que era melhor casar-se então, porque, segundo a moral cristã, o casamento é um lugar legitimado para exercer os prazeres sexuais. Ela então vai embora do convento e se casa, realizando seus desejos carnais que antes eram reprimidos.
Referências:
FOUCAULT.
Michel. História da Sexualidade I: a
vontade de saber. Rio de Janeiro: Graal, 1988.
LISPECTOR, Clarice. Melhor do que arder. In:____. A via crucis do corpo. Rio de Janeiro:
Rocco, 1998
Nenhum comentário:
Postar um comentário