Por Clayre Cristina Cardoso
Este é um conto um pouco confuso,
narrado em primeira pessoa, constituído por várias histórias picantes, com um
tom de fofoca que caracteriza a narrativa, e que faz uso de estruturas do
cúmulo e da ironia do destino. É um conto considerado kitsch. Herman Brocha
(1973) afirma “que o kitsch resulta
de uma perversão do sistema da arte realizada por meio de uma racionalidade
técnica voltada para o lucro comercial e/ou para a propaganda de sistemas de
valor alheios ao campo específico dos valores da arte. No kitsch, haveria uma substituição da categoria ética pela categoria
estética degredada em efeitismo”.
Neste conto, Clarice Lispector interage
com o livro A hora da estrela,
fazendo construção com o dialogismo. A
narradora, usa um tom despojado, da oralidade de quem conta causos e fofocas, frustando
o leitor com a idéia de uma realidade traumática,vivida pela suas personagens.
Clarice Lispector descreve em seu conto
situações inusitadas e grotescas, trazendo, conflitos amorosos, como traição,
no caso do pai que era amante da mulher do médico.
Pois é. Cujo pai era amante, com seu alfinete de gravata, amante da mulher do médico que tratava da filha, quer dizer, da filha do amante e todos sabiam, e a mulher do médico pendurava uma tolha branca na janela significando que o amante podia entrar. Ou era toalha de cor e ele não entrava (Lispector, 1998. p. 57).
Há também, a vingança e a violência; por
ciúmes, a mulher jogou água quente no ouvido de Bastos. Segundo Bataille (1980, p. 91-92) a violência
de um propõe-se a violência do outro. De ambos os lados trata-se de um
movimento que obriga a sair para fora de si, para fora da descontinuidade
individual.
Bem. A mulher teve ciumes e enquanto Bastos dormia despejou água fervendo do bico a chaleira dentro do ouvido... (Lispector, 1998, p.58).
Para Angelica Soares (1999, p. 27),
“sabemos que embora o erotismo seja um dos aspectos da vida interior do ser
humano, este busca fora de si um objeto de desejo”.
Podemos perceber então que apesar do
erotismo ser uma busca interior do ser humano, o homem não deixa de buscar o
físico exterior do outro, pois como cita o conto, por ironia do destino, Bastos
que havia terminado seu noivado, porque a noiva havia amputado a perna e ele que
não perdoava defeito físico, acabou ficando surdo. Este é um conto que faz uso
de uma série de clichês, que são consubstancias às personagens – todas
estereótipos.
Clarice Lispector cria um efeito de
confusão com as histórias por ela contadas que acaba atraindo o leitor, que
acaba o conto dizendo que nao soube de mais notícias, reforçando a idéia de
fofoca.
Referências:
SOARES,
Angelica. A paixão emancipatória:
vozes femininas da liberação do erotismo na poesia brasileira. Rio de Janeiro:
DIFEL, 1999.
ALEXANDRIAN.
História da literatura erótica. Rio
de Janeiro: Rocco, 1993.
LISPECTOR,
Clarice. A via crucis do corpo. Rio
de Janeiro: Rocco, 1998.