Por Patrícia Mendes
No conto “Miss
Algrave”, a protagonista Ruth Algrave é cheia de pudores. Ela é irlandesa e
vive sozinha num apartamento em Londres, faz pose sendo moralista. Tudo para
ela era considerado pecado, portanto, proibido, como por exemplo, comer carne
ou tomar banho nua.
Ela se orgulhava
de sua situação, solteira, virgem, pura e casta e se achava no direito de
julgar os outros, principalmente as mulheres que viviam em situações diferentes
dela, ela classificava tudo como imoral ou falta de vergonha, ela repudiava até
a sexualidade dos pais.
A felicidade
para ela era dedicar-se ao trabalho, visitar sua amiga idosa, tomar chá e
alimentar os pombos, mas sua vida dá uma reviravolta ao receber a visita de um
ser de outro planeta, o Ixtlan, e ao sentir o gozo pela primeira vez. Os seus
conceitos mudam e ela passa a fazer tudo aquilo que ela condenava: de moça cheia
de pudor ela se transforma em mulher viciada em sexo, primeiro ela sai à procura
de homens apenas para satisfazer o seu desejo, mas depois ela descobre que pode
fazer disso uma profissão e ganhar dinheiro, então sua vida começa a girar em
torno dos prazeres.
Nesse conto
podemos perceber a presença da repressão sexual e a associação do sexo, do
prazer com o pecado. A protagonista é uma mulher que vive reprimindo e negando sua
sexualidade, que se sente culpada pela lembrança que a atormenta: “[...] quando
era pequena, com uns sete anos de idade, brincava de marido e mulher com seu
primo Jack [...]” (Lispector, 1998,
p. 13). Ela manifesta um sentimento de repulsa em relação à sexualidade,
portanto, se ela falasse sobre sexo, estaria transgredindo.
Segundo Foucault
(1988) e o que ele chama de hipótese repressiva, ao retirar a sexualidade que
transitava de uma maneira livre até o século XVII e colocá-la na esfera
privada, a sexualidade foi reduzida à sua função reprodutora e
restrita ao casamento, o que acarretou a submissão sexual (principalmente das mulheres) e tudo o que
ocorresse fora desse contexto era condenado.
Referências:
FOUCAULT, Michel. História
da Sexualidade I: a vontade de
saber, tradução de Maria Thereza da
Costa Albuquerque e J. A.Guilhon Albuquerque. Rio de Janeiro: Edições Graal,
1988.
LISPECTOR, Clarice. A
via crucis do corpo. Rio de
Janeiro: Rocco, 1998.
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