20 dezembro 2008

Tímido Poema, de Lucas Gilnei


por Lucas Gilnei

Início



Se entre as dançantes luzes olha-me.
Recuo. Não sei desses labirintos.
Seduz com o olhar faceiro.
Cruza as pernas.
Realça o entre abrir da blusa.
Recuo. Não sei desses labirintos.

Mas, tomo tento e fico esperto.
Se insistir, digo: - Ensina-me?
Põe tua mão sobre a minha.
Leva-me a passear pelo seu corpo.
Mostra à minha boca.
Mostra às minhas mãos.
O caminho para sentir-te inteira.


Lucas Gilnei é aluno da especialização em Letras na UFG - Campus Catalão e atendente comercial. Canceriano e leitor, agora, também, tem um blog: VERBORRAGIAS.


Eros Enunciado: a poesia erótica de Marina Colasanti


por Silvana Augusta Barbosa Carrijo

Murmúrios, gemidos, lamentações, ladainhas de orações constituíram, por muito tempo, o quinhão discursivo atribuído e concedido às mulheres. No Novo Testamento, Paulo, dirigindo-se a Timóteo, afirmava incisivamente que a mulherdeveria ouvir a instrução em silêncio e submissão. No âmbito da criação literária, propriamente dito, tal interdição se fez historicamente presente vez que, durante séculos, o sujeito masculino constituiu voz enunciadora quase exclusiva. A partir da segunda metade do século XX, porém, obras de escritoras várias são descobertas e trazidas à baila como objeto de investigação científica, asseverando o exercício feminino de rompimento das fissuras de interditos lingüístico-literários às mulheres. Ao enunciar de maneira resoluta e desembaraçada sobre a temática do erotismo em alguns poemas de Rota de colisão (1993) e de Gargantas abertas (1998), Marina Colasanti não só assevera seu direito de enunciação como também elege como mote literário um tema tabu por muito tempo interdito às mulheres. Superando o reinado do sussuro, do não-dito, do implícito, Marina contempla os amantes no espetáculo amoroso. Frutos e flores, seios e dedos, olhos e bocas são alguns dos signos enunciados pela escritora em sua poética do erotismo, poética em que descortina artisticamente o espetáculo amoroso aos olhos do leitor:

Teu sexo

Teu sexo em minha boca
me preenche
como se pela boca
penetrasse a vagina.
Teu sexo em minha boca
me engravida
Me põe túrgida
prenhe
mel coando dos peitos
sobre a cama.

Entre um jogo e outro

Ter você nu na cama
que deleite.
E como a gente brinca
e rola e ri
para depois sentar
nos lençóis descompostos
o corpo ainda suado
e continuando sempre
o mesmo jogo
falar a sério
de literatura.

Te beijo no cangote
e quieta penso:
um outro amante assim
Senhor
que trabalho terias
pra me arrumar
se me tomasses este.


De líquida carne

Meus seios tomam a forma
do momento que os contém.
Se colhidos pela boca
alongam ardidas pontas.
Se aprisionados na mão
acrescem à própria curva
a curva doce da palma.
E quando soltos ao vento
no meu corpo em correria
ondejam
como a maré que a água faz na bacia.

Frutos e flores

Meu amado me diz
que sou como maçã
cortada ao meio.
As sementes eu tenho
é bem verdade.
E a simetria das curvas.
Tive um certo rubor
na pele lisa
que não sei
se ainda tenho.
Mas se em abril floresce
a macieira
eu maçã feita
e pra lá de madura
ainda me desdobro
em brancas flores
cada vez que sua faca
me transpassa.

Assim, por via do exercício pleno da sexualidade, da contemplação resoluta do erotismo, a mulher, em contato com o homem, floresce e com ele empreende a tentativa de, pela perpetuação da espécie, dominar as faces horrendas e implacáveis de Cronos. Assim, mulher e homem fazem com que Eros, descortinado e contemplado, vença Tânatos. E o reinado do erótico se infiltra no domínio do poético, mais especificamente do poético de autoria feminina. Rompendo séculos de interditos à sua voz, a mulher enuncia alto, em bom som e com maestria literária sobre o exercício da sexualidade. Assim, Eros é femininamente enunciado.

Silvana Augusta Barbosa Carrijo é professora de Literatura na UFG - Campus Catalão. O artigo completo sobre a poesia erótica de Marina Colasanti encontra-se no livro: Formas e Dilemas da Representação da Mulher na Literatura Contemporânea, organizado por Maria Isabel Edom Pires e publicado pela editora da UnB, em 2008.

Dois Poemas de Ulysses Rocha Filho



por Ulysses Rocha Filho


Coisa de Minuto


Vem, me pega, me morde
Me joga na parede
me faz lagartixa
que o homem vem
que a sogra espreita
que a adrenalina subiu
que o cio pede
e eu desejo ardentemente!

Vem, me xinga
me pega de jeito
de qualquer jeito
à qualquer hora
quando puder
e quando quiser...

Tô fazendo justiça com mãos
matando cachorro a grito
Metendo os pés na jaca
No minuto do sexo sem nexo
Pra dizer que te quero!

Quirodáctilo

Toquei o dedo no meio
Do nada do sexo
E comecei acariciando
O mais belo favo de mel...

Viajei por outros caminhos
Desci aos infernos da solidão
(Percebendo presença de multidão)
Mas alcancei um prazer supremo....

Como nunca imaginara,
Descobri na dor do prazer,
entre o dedo indicador e o anelar,
A falsa realização do sonho...

Em cada palavra – mentiras!
Em cada olhar – verdades!
Em outros sonhos – ilusão!
Em cada dedo, no sexo – um não!

Ulysses Rocha Filho é professor, mora em Catalão-Go, escreve seus contos e poemas, relaciona literatura e cinema além de tentar ser pai e marido exemplar e manusear um blog: ULYSSITUDES.