08 dezembro 2010

A necrofilia em "Solfieri"



Por Beatriz Dantas, Elisângela Borges e Fernanda Peixoto

Manuel Antônio Álvares de Azevedo foi fortemente influenciado por Lord Byron e Musset, inserindo em suas poesias elementos da linguagem desses escritores. A melancolia e a presença constante da morte eram temas perenes em suas obras. Tendência aos aspectos mórbidos e depressivos da existência, egocentrismo, idealização da mulher, melancolia, subjetivismo, solidão, degeneração dos sentimentos, decadentismo e até satanismo. A escolha vocabular presente em alguns textos reflete essa tendência: "pálpebra demente", "matéria impura", "fúnebre clarão", "boca maldita", entre outros.

A partir dessas considerações, é possível relacionar a análise do conto de Álvares Azevedo, “Solfieri”, com as características já mencionadas. Como os aspectos mórbidos:
“Não era só uma voz melodiosa: havia naquele cantar um como choro de frenesi, um como gemer de insânia: aquela voz era sombria como a do vento à noite nos cemitérios, cantando a nênia das flores murchas da morte” (p. 221) e “Tomei o cadáver nos meus braços para fora do caixão” (p. 222). 
Fica evidente que o personagem Solfieri possui adoração por uma pessoa morta, prática denominada de necrofilia (desejo e prática sexual com cadáveres), algo que não estaria dentro dos padrões “normais” da sociedade, apesar já existir desde os tempos mais remotos da história humana. O conto também extrapola as projeções do objeto amado, por exemplo, está morta e ao mesmo tempo vive: “Não era já a morte: era um desmaio” (p. 222).  

É considerado erótico, mas o nível de explicitude é muito baixo devido às convenções de linguagem romântica: “O gozo foi fervoroso – cevei em perdição aquela vigília” (p. 222).

Referências:
AZEVEDO, Álvares de, Sofieri. In: COSTA, Flávio Moreira da Costa (Org.). As 100 melhores histórias eróticas da literatura universal. Rio de Janeiro: Ediouro, 2003.

Acesso em 02 dez 2010.