Por Júlia Graciele da Silva
O conto de
Clarice Lispector, “Ele me bebeu”, é uma história que na época em que foi escrita provavelmente deixou muitas pessoas inconformadas,
ou melhor, as pessoas não gostariam de ouvir falar, pois, de certa maneira incomodava
a sociedade em geral, vista que a homossexualidade sempre foi um grande tabu.
No conto, a
homossexualidade é tratada de uma maneira sutil, a autora faz insinuações a
respeito de Affonso Carvalho e Serjoca. Enfim, a narrativa leva-nos a entender
que ambos se gostaram.
Em se tratando
da personagem de Aurélia Nascimento, a autora nos apresenta uma mulher fútil, a
qual está sempre preocupada com a aparência e status, deixando-se levar pelo outro, porém ao perceber que o
homem pelo qual está interessada é cortejado por
“outro”, que é seu amigo e maquiador, esta se
sente muito mal.
O mal-estar de Aurélia no conto talvez aconteça por não entender o que está acontecendo a sua volta, pois o homem a quem quer conquistar preferiu seu amigo. Ou talvez por ser naquele momento que realmente descobriu quem era, sem maquiagem e sozinha.
O fato é que
Aurélia não aceita este relacionamento, e tenta achar respostas em si mesma,
quando tudo acontece ela percebe que nunca existira, que o que viveu foi uma
farsa, a partir daquele momento ela se reencontra consigo mesma.
O título do
conto pode ser explicado sob a seguinte lógica: Aurélia
entende que Serjoca, ao maquiá-la, quer apagar a mulher que realmente existe e
infundir outra em seu lugar.
Para Bataille (2004),
a paixão é um sentimento que nos leva ao sofrimento, sendo a busca incessante
pelo impossível, a personagem Aurélia é a prova desta afirmação. Ao ter
convicção que não conseguiria conquistar o ser amado ela sofre e tem uma dupla
decepção, uma causada pelo ser amado e outra por seu amigo e maquiador.
Referências:
BATAILLE,
Georges. O erotismo. São Paulo: Arx,
2004.
LISPECTOR,
Clarice. A via crucis do corpo. Rio
de Janeiro: Rocco, 1998.
Um comentário:
É fácil entender o sentimento de Aurélia,difícil é aceitar e perceber que aquilo nunca existiu.Mas será que la no fundo nao ficaria a mágoa de ter sido trocada por um homen?
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