27 novembro 2010

O poder da imagem



Por Júlia Graciele da Silva

O conto de Clarice Lispector, “Ele me bebeu”, é uma história que na época em que foi escrita provavelmente deixou muitas pessoas inconformadas, ou melhor, as pessoas não gostariam de ouvir falar, pois, de certa maneira incomodava a sociedade em geral, vista que a homossexualidade sempre foi um grande tabu. 

No conto, a homossexualidade é tratada de uma maneira sutil, a autora faz insinuações a respeito de Affonso Carvalho e Serjoca. Enfim, a narrativa leva-nos a entender que ambos se gostaram.

Em se tratando da personagem de Aurélia Nascimento, a autora nos apresenta uma mulher fútil, a qual está sempre preocupada com a aparência e status, deixando-se levar pelo outro, porém ao perceber que o homem pelo qual está interessada é cortejado por “outro”, que é seu amigo e maquiador, esta se sente muito mal.

O mal-estar de Aurélia no conto talvez aconteça por não entender o que está acontecendo a sua volta, pois o homem a quem quer conquistar preferiu seu amigo. Ou talvez por ser naquele momento que realmente descobriu quem era, sem maquiagem e sozinha.

O fato é que Aurélia não aceita este relacionamento, e tenta achar respostas em si mesma, quando tudo acontece ela percebe que nunca existira, que o que viveu foi uma farsa, a partir daquele momento ela se reencontra consigo mesma.

O título do conto pode ser explicado sob a seguinte lógica: Aurélia entende que Serjoca, ao maquiá-la, quer apagar a mulher que realmente existe e infundir outra em seu lugar.

Para Bataille (2004), a paixão é um sentimento que nos leva ao sofrimento, sendo a busca incessante pelo impossível, a personagem Aurélia é a prova desta afirmação. Ao ter convicção que não conseguiria conquistar o ser amado ela sofre e tem uma dupla decepção, uma causada pelo ser amado e outra por seu amigo e maquiador.

Referências:
BATAILLE, Georges. O erotismo. São Paulo: Arx, 2004.
LISPECTOR, Clarice. A via crucis do corpo. Rio de Janeiro: Rocco, 1998. 

Um comentário:

Unknown disse...

É fácil entender o sentimento de Aurélia,difícil é aceitar e perceber que aquilo nunca existiu.Mas será que la no fundo nao ficaria a mágoa de ter sido trocada por um homen?