10 dezembro 2008

O erótico-obsceno na música sertaneja


por Marilda Barbosa Alves

A linguagem erótico-obscena tem sido intensamente difundida em todos os meios de comunicação de massa. Dentre eles, destacamos a música sertaneja que, por ser tão reproduzida em nossa região, contribuirá no perfeito entendimento de nossos estudos.

Tecemos algumas considerações sobre este léxico e, para tanto, escolhemos a canção “A fruta-vida”, interpretada por Gino e Geno, e a canção “Fogo no rabo”, interpretada por Teodoro e Sampaio.

Em ambas as canções, encontramos uma gama imensa de vocábulos e estruturas que buscam dizer sem dizer. São letras que evocam e fazem apologia ao erótico-obsceno, ou seja, trabalham com palavras que tem sentido duplo e que no contexto geral da música, remetem às genitálias e ao ato sexual. Nas canções citadas, exploram, quase que invariavelmente, a figura feminina, abordando sempre uma linguagem erótico-obscena que, atualmente, se popularizou graças à mídia e à censura que se tornou mais flexível. Ressalta-se que tal modalidade lingüística sempre existiu e hoje, não restringe sua utilização apenas à parcela de falantes considerada menos culta.

O uso de metáforas é bastante recorrente nas canções mencionadas, isto porque, existe um tabu para o uso dos nomes que denominam os órgãos genitais e, para tal, são utilizadas outras palavras que são escolhidas através de associações, que podem ser: pela cor, pelo cheiro, pelo formato. Como por exemplo, na canção “A fruta-vida”, interpretada por Gino e Geno, já no primeiro verso “A fruta que eu mais gosto como até o caroço...”, encontramos a palavra fruta utilizada em um novo contexto, diferente do significado que o signo em primeira instância nos remete: aqui a palavra se refere ao órgão sexual feminino. Ao longo da canção, outros vocábulos são utilizados para complementar o que o autor se dispôs a fazer: assim forquilha nos remete ao vértice das pernas, à região pélvica, onde se encontra a vagina, anteriormente definida como fruta. Ainda encontramos os vocábulos grudadinha, peladinha e cabeluda, mostrando as características da genitália feminina.

Só dá uma no pé.
Grudadinha na forquilha.

Ela tem vários nomes.
E a aparência as vezes muda.
Algumas são peladinhas.
E outras são cabeludas.

Já na canção de Teodoro e Sampaio “Fogo no rabo”, a metáfora se dá com as palavras pistola e cabo, fazendo referência ao órgão sexual masculino. Os objetos mencionados, por sua aparência cilíndrica, servem de referencial e comparação com o pênis, além de supor que este pênis esteja em estado de ereção devido à consistência de tais objetos.

O termo pistola faz menção a uma arma de fogo que expulsa um projétil com grande velocidade através de um orifício em sua extremidade. De semelhante modo, o pênis lança o esperma quando ejacula. O cabo, analisando sua utilização, refere-se a uma parte da madeira ou outro objeto cilíndrico e duro que acopla em uma ferramenta por meio de um orifício próprio, conforme se faz com o pênis durante o ato sexual. Nos dois casos, “pistola” e “cabo”, as palavras que substituem os nomes das genitálias são utilizadas tomando como referência a forma que elas possuem e que lembram o órgão genital masculino quando ereto.

Vou levar minha pistola
E já vou com a mão no cabo
Nós vamos lá pro motel

Vamos fazer um trembel
E apagar o fogo do rabo.


Fica evidente que, aos autores e intérpretes destas músicas, interessa principalmente a popularização da canção por questões comerciais, já que falta muito de apuro literário e sobra vulgarização do tema, composto em versos apelativos e estrofes e ritmos de fácil memorização. O presente trabalho tem o propósito de trazer à tona dados relevantes que contribuam para se entender melhor à produção do léxico erótico-obsceno na música sertaneja.

Referências:

SAVAGLIA, Claúdia & ORSI, Vivian. O léxico erótico-obsceno em italiano e português: algumas considerações.

BIDERMAN, Maria Tereza Camargo. As ciências do léxico. In: ISQUERDO, Aparecida Alegri & OLIVEIRA, Maria Pinto Pires (org.). As ciências do léxico: Lexicologia, Lexicografia, Terminologia. 2ª Ed. Campo Grande: Ed. UFMS, 2001.

8 comentários:

Lucas Gilnei disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Lucas Gilnei disse...

Marilda, trabalho legal, ok? Gosto muito de trabalhar com canções e é incrível como músicas desse cunho fazem sucesso, como, também, rapidamente desaparecem. É a plena vulgarização das relações e dos genitais, poderíamos até considerar como sendo mais obsceno do que erótico. O sucesso dessas músicas é quase proposital já que em todos os meios midiátios o foco está em sua reprodução. Não é dado aos ouvintes outras opções: alguém conhece as composições de "Céu" ou as adaptações literárias feitas em canções do grupo "Nhambuzim" do CD Rosário? O erótico está sempre presente nas canções, novelas, filmes e livros e essa discussão torna nossa visão mais aguçada para observar qualitativamente suas aparições.
Marilda... sucesso, viu?? Vc merece.
Grande Abrço a todos.

Anônimo disse...

Como podemos perceber nos exemplos citados pela Marilda em seu trabalho as figuras de linguagem são capazes de causar alguns efeitos de sentidos nas letras de músicas ou em qualquer outro texto literário, como: poesias e poemas.Em especial neste trabalho é notavél o efeito que a figura de linguagem metáfora causou nas músicas citadas. Que foi atribuir aos orgãos genitais masculino e feminino outros nomes, que os lembram a partir do tamanho, formato,cor e cheiro.
Este trabalho vem ressaltar também o quantos algumas músicas sertanejas são obsenas e ainda o quanto fazem sucesso exatamente pelo léxico de que se apropriam.

Menina Veneno disse...

Trabalho interessante, Marilda. Considerando o mundo musical, há muita coisa que pode ser analisada, pois muitas músicas remetem ao sexo direta ou indiretamente. Não podemos nos esquecer que não só a letra pode expressar idéias, sensações etc., mas também a melodia e a dança. Um exemplo de melodia que remete ao sexo é o trance, bastante utilizado em filmes pornográficos; o blues e o jazz (estilos musicais que às vezes se misturam, ficando difícil diferenciar um do outro), que com a ajuda do tom melodioso do saxofone deixa no ar uma atmosfera sensual, erótica... isso me faz lembrar aquelas danças no “queijo”, ou seja, aquelas danças sensuais que mulheres fazem usando uma barra de ferro, muito comum nos anos 80 e 90, principalmente nos Estados Unidos. Com relação à dança, há coreografias com várias nuances, que também, relacionadas ao sexo, vão do pornô - como as danças de grupos de pagode (se é que se pode denomina-los assim), por exemplo o falecido “É o Tchan”; de grupos de funk, como o do MC Serginho, com seu “sucesso” Eguinha Pocotó – ao estilo erótico, como as coreografias da cantora Beyoncé, Britney Spears etc..
Discordo do meu amigo Lucas Gilnei quando ele diz que as músicas “rapidamente desaparecem”, porque quando elas “explodem”, a “poeira” demooooora a baixar, ou seja, quando caem no gosto popular (que gosto,héim?!), aparecem no nada interessante programa Domingo Legal, no chatíssimo programa do tagarela do Faustão (Domingão do Faustão), no ridículo e sonso Superpop, nas rádios, nos carros de “playboyzinhos” e de falsos “playboyzinhos”, que acham que não só o dono do carro deve ouvir a música, mas a rua inteira etc.. Então, depois de um tempo, quando pensamos que a “febre” do brega já acabou, vem o Carnaval e lança essas “preciosidades” no país inteiro e começa tuuuuuuuuuuuudo de novo. E ai dos ouvidos daqueles que tem um gosto musical acima da média! Gostei do post mesmo, Marilda. Espero que continue com este trabalho.Abs!

Menina Veneno disse...

eu fiz praticamente outro post aí!kkkkkkkk!!!!

gnt, como eu pude me esquecer da madonna? tem mulher mais "sexo" do que ela? Mulher à frente de seu tempo, yeah, she has "balls" rrsrsr!Mulher de garra, forte, corajosa, enfrentou preconceito de tudo, de todos. Uau! Eu amoela!kkkkkkkkk!Dava uma boa tese de mestrado!hauahauahauahau!

Anônimo disse...

Marilda, adorei! Kkkkkkkkkk. Gente, e não é só nas letras de sertanejo não. Pega funk, música romântica e tudo mais... O mundo tá cheinho disso ai. Na verdade acontece sempre qdo a gente “apr(e)ende” uma coisa e não o significado dessa coisa. Explicando melhor: a gente decora, gosta, mas às vezes, nem presta atenção no que a música ta dizendo... Aprender cantar [creu] é lindo, mas e a malicia que está por trás que muitas pessoas não apreendem? Daí o comentário é geral: nossa, fulano ta galinha, fulana é custosa. Gente, crianças de 3 / 5 / 7 anos dançam Créu rindo, uai!

Ela tem vários nomes.
E a aparência as vezes muda.
Algumas são peladinhas.
E outras são cabeludas.

Precisa ser mais claro que isso? Tem coisa mais clara para músicas que chamam “Fogo no rabo”!. Kkkkkkkkkkkkkkkkkkkk. Nossinhora.! Tá falado!

Raquel R. Martins disse...

Muito interessante esse Post, pois a música sertaneja é, sem dúvida, um dos estilos musicais mais praticados no Brasil e apesar de, a maioria falar de Amor/Dor, há as letras que falam ex/implicitamente de sexo, faz alusão a membros sexuais e estao (ou estamos) todos aí com elas na boca, cantando.

Rafaela Gonçalves disse...

O tema trabalhado neste tópico se faz pertinente pela recorrência de temas eróticos e obcenos presentes em diversos âmbitos da cultura, inclusive no cenário musical popular que por sua vez gera um vasto capital. Essas músicas tão vendidas, escutadas muitas vezes degradam a imagem da mulher a transformando em um mero objeto de consumo, descartando sua formação intelectual e análise crítica das relações. Dessa forma se faz relevante apontar uma leitura crítica dessa realidade, como esta proposta neste texto, para que a degradação da mulher em temas musicais deixe de ser uma diversão e seja vista como um banalização do feminino.