20 novembro 2010

A ars erotica no conto Melhor do que arder, de Clarice Lispector



Por Kívia Alves da Silva

Para produzir a verdade do sexo, existem basicamente dois grandes procedimentos: ars erotica e scientia sexualis (Foucault, 1988). Neste texto, focaremos apenas o primeiro procedimento, tentando mostrar a ars erotica no conto de Clarice Lispector, “Melhor do que arder”.   

A ars erotica, como um dos modos de se produzir as verdades do sexo, constitui-a na extração do próprio prazer, encarado como prática e recolhido como experiência. O prazer, adotado aqui como objeto de estudo, recai sobre a própria prática sexual para trabalhá-la como se fosse de dentro e ampliar seus efeitos. Essa prática deve ser mantida de forma discreta, pois, segundo a tradição, perderia sua eficácia e sua virtude ao ser divulgada.

A ars erotica é uma forma de mostrar o sexo de uma maneira diferente do que se pensava, não como uma forma proibida e até mesmo um pecado, mas sim como um prazer, que quando praticado de forma demorada e intensa, vai se refletir no corpo e na alma.

No conto de Clarice Lispector, a protagonista Madre Clara sente o fogo e o calor do desejo, ela faz de tudo para que esse desejo vá embora, mas é vencida por ele e acaba saindo do convento para ir à procura de um homem para se casar e, enfim, matar seu desejo insaciável. Demora um pouquinho, mas ela acaba encontrando um português chamado Antonio, dono de um botequim. Eles se casam, passam a lua-de-mel em Portugal e voltam para o Brasil, ela grávida, satisfeita e alegre.

Percebemos a ars erotica no conto de Clarice a partir do momento em que a protagonista se sente realizada ao encontrar o que tanto procurava (sexo), e com essa realização ela encontra a alegria e se sente satisfeita, afirmando o que dissemos anteriormente, que a pratica do sexo se reflete no corpo e na alma.  

Na arte erótica, além de observarmos a prática do sexo como objeto de estudo, é notado algo que faz bem e que pode, como afirma Foucault (1988) ser elixir de longa vida e exílio da morte, pois a partir do momento em que nós nos sentimos felizes e satisfeitos nos distanciamos da vontade de querer morrer. Assim como Clara que deixa de ser uma madre infeliz para ser uma mulher feliz e satisfeita.      

Referências:
FOUCAULT, Michel. Historia da sexualidade I: a vontade de saber.  Rio de Janeiro: Gaal, 1988.
LISPECTOR, Clarice. A via crucis do corpo. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.

3 comentários:

Unknown disse...

algumas pessoas sentem mais necessidade da pratica sexual do que outras.A personagem madre Clara é uma dessas,pois nem com oraçoes consegue se libertar do"fogo" que sente e a soluçao é o casamento.

Anônimo disse...

A mulher cada vez mais busca pelo seu prazer, desfazendo-se de antigos conceitos. È isso ai mulherada. Mas olha! Juízo viu.

Júlia Graciele da Silva Borges

Ana Carolina disse...

Meninas adorei o blog,queria muito ter participado desta disciplina.Parabéns!!!!