01 dezembro 2008

Amores de Estela



por Wilton Cardoso

a coisa explodiu em mim
como conter a energia
que derrama-se e me arrasta
deixando um rastro de mim
e era eu quem me dera
continuar sendo assim
tão eu tão minha eu em mim
a coisa foi um estrondo
mas só o corpo sentiu
restou a pele que eu era
e ainda crêem que sou
por baixo dos poros de mim
as fibras derretem-se e formam
uma mesma e massiva amorfia
alada tensa intensa
toda borda transbordo-me toda
me despejo em desejo e tesão

***

me lave em lava
favo de fel e mel
me leve a mal
***

duplamente feminino
o amor entre nós duas
é o mais íntimo
e singelo de todos os amores

fêmea em todas as metades
e poros a paixão me queima
e quer e teima na tarde
do meu ser que se dissipa
em seu espelho adolescente

iara florescente em teu silente
corpo me deixo e arrasto em canto
me arremesso e me ofereço
à tua torrente turva
em que sou parca e onde me perco
incendida e quase morta
minha doce amiga das águas
de mim
ressurjo
das cinzas de mim

Wilton Cardoso apareceu em Morrinhos/GO - 1971. Compulsão crônicaguda por escrever: poemas, ensaios… Leitor obcecado. E obsessivo. Mas preguiçoso. E indisciplinado. Mora em Goiânia. Caipira, caipora, funcionário público. Vive ao léu, como todo mundo. Nos dizeres do poeta, Estela é seu vulcão, um espírito, uma pomba-gira que baixa sobre ele e que transborda desejo.




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