01 dezembro 2008

Monella, de Tinto Brass


por Denise Fernandes


Uma ótima dica de filme: quem gosta de comédia erótica, ao estilo pornochanchada, pode se divertir com o filme “Mão nela”, ops! Monella (em inglês, Frivolous Lola). Apesar de a narrativa do filme ser uma água com açúcar, as cenas fazem rir muito, ou porque são realmente engraçadas, ou porque são extremamente ridículas. A história, adaptada de um romance homônimo, se passa em uma vila da Itália, na década de 50 e conta as travessuras de uma jovem cabeluda (meu Deus, quanto cabelo! Não existia lâmina de depilar? rsrsrsrs), virgem (aham...sei.), que estava noiva de um padeiro, o qual pensava que o casal só deveria fazer sexo depois do casamento. Mas como o fogo da garota era muito grande (até brincar de bem-me-quer, mal-me-quer com os quilômetros de pêlos pubianos era brincava!), no desenrolar da trama, ela briga com o noivo e se contamina com pensamentos eróticos envolvendo seu suposto padrasto(detalhe: Lola não sabia se o homem era seu pai ou não!).

Seria um dos objetivos da história nos fazer pensar em incesto? Ou nos fazer refletir sobre o conceito de virgindade? De moralidade? São hipóteses plausíveis. Mas o que mais se destaca nesta história é a desconstrução do estereótipo da mulher virgem. Entende-se por “estereótipo”, a imagem e/ou idéia pré-concebida para com uma pessoa, grupo social, raça, classe, coisa ou situação; ou, de acordo com Regina Célia de Souza, autora do artigo “Atitude, Preconceito e Estereótipo”,

É um conjunto de características presumidamente partilhadas por todos os membros de uma categoria social. É um esquema simplista, mas mantido de maneira muito intensa e que não se baseia necessariamente em muita experiência direta. Pode envolver praticamente qualquer aspecto distintivo de uma pessoa – idade, raça, sexo, profissão, local de residência ou grupo ao qual é associada. Quando nossa primeira impressão sobre uma pessoa é orientada por um estereótipo, tendemos a deduzir coisas sobre a pessoa de maneira seletiva ou imprecisa, perpetuando, assim, nosso estereótipo inicial.

O estereótipo de uma moça virgem é o de uma moça recatada, frágil, tímida, doce, subordinada à classe masculina, que se faz respeitar. Ser uma “virgem impura”, nas décadas de 20 e 30 preocupava os moralistas, pois a perda da virgindade antes do casamento, significava a desonra da família, a perda de um casamento rentável, etc.. O hímen era como uma porta valiosíssima, de ouro, a qual só podia ser arrombada depois do casamento. Este pequeno pedaço de pele, o hímen, era a chave para uma vida com o futuro digno de uma dona de casa. Dele dependiam as relações entre as famílias da sociedade, relações comerciais etc. Porém, atualmente, esta idéia do “hímen intacto antes de casar = futura vida de mulher digna” que, antigamente, era admitida nas relações sociais, foi se deteriorando com o passar dos anos e também devido a momentos históricos importantes, como o movimento feminista. Na Itália, no século XVII, três intelectuais se tornaram precursoras do feminismo: Lucrécia Marinelli, que produziu, em 1601, “La Nobilità e l’Eccelenza delle Donne” (A Nobreza e a Excelência da Mulher); Moderata Fonte, que produziu, em 1600, “Merito delle Donne” (Valor da Mulher) e Arcângela Tarabotti, que escreveu “Antisatira” (Anti-sátira), “Difesa delle Donne contro Horatio Plata” (Defesa da Mulher contra Horácio Plata) e “La Tirannia Paterna”.

O movimento feminista não se baseou somente na queima de sutiãs em praças públicas, mas sim na luta pela emancipação feminina, na luta pela igualdade entre os sexos, na liberdade de expressão do pensamento e do corpo da mulher, do direito de a mulher ter sua autonomia. No filme supracitado, a personagem Lola pode, em certos telespectadores, causar certo “estranhamento”, já que suas atitudes são completamente opostas às atitudes das mulheres da década de 50, visto que a mesma revela abertamente o desejo de fazer sexo, se mostra uma moça que questiona, que retruca, que expõe seus desejos carnais. Este “estranhamento” se dá pelo fato de haver resquícios do pensamento vigente dos “puristas” da época. A pessoa que o sentir irá pensar que a personagem está agindo não como uma típica mulher e ainda por cima, virgem. Irá pensar que esta está tendo atitudes de homem, devido à sua liberdade de atos e pensamentos.

A história da literatura traz imagens contraditórias como as da Nossa Senhora, da mulher idealizada, da bruxa, da jovem inocente, da sedutora, da mãe dedicada ou da femme fatale. A diversidade das imagens estereotípicas, porém, se junta numa estrutura dualista: elas dividem o feminino numa forma idealizada e demoníaca. Até há pouco tempo atrás, a maioria das mulheres recebia uma educação voltada apenas para os afazeres domésticos, não tendo acesso à cultura e às informações. Não tinham direito ao voto e não podiam trabalhar fora de casa. Além disso, era preciso que se mantivesse casta, para isso sendo vigiada durante a vida toda, primeiramente pelo pai, e, mais tarde, pelo marido, na falta deste, pelos filhos (Reisner, 1999).

Na verdade, Lola apresenta um comportamento que poderíamos chamar de amoral, a partir do momento em que ignora as convenções sexuais e o pudor, trata com naturalidade a exposição do corpo, inclusive das partes genitais e não se importa com as convenções sociais.

Ficou curioso? Quer saber se o padrasto de Monella é mesmo o pai dela? Quer saber se ela conseguirá se manter virgem até o casamento? Não vou dizer. Vou parar por aqui, afinal, esta sessão é de Dicas de Filmes e Livros... e não contarei o final da história...




Ficha Técnica:

Título Original: Monella / Frivolous Lola

Gênero: Comédia Erótica

Origem/Ano: ITÁ/1998

Duração: 99 min

Direção: Tinto Brass


6 comentários:

Anônimo disse...

Oi Denise!!Achei muito interessante quando você se refere ao hímen como um pedaço de pele.Tenho pra mim que essa atitude de relacionar o caráter feminino com hímen, é um esteriótipo muito banal; pq com ou sem ele, não se muda nada em relação a atitudes;o caráter da mulher está na sua capacidade e talento, porém acho, que já conquistamos muito, mas é sempre bom mais, e mais.Como diz a letra da musica, de Alexandre Pires "Mulher de hoje em dia não tá de bobeira mais não".Em seguida trecho da música
(Mulher de Hoje Em Dia)
Já é coisa do passado o império masculino
A mulher chegou chegando com seu jeito feminino
Deu rasteira no machão, revolução e o bobão foi de cara no chão
Mulher hoje em dia não tá de bobeira mais não

Mulher que não desanimou mostrou seu valor e tudo mudou
Mulher que tudo conquistou de igual pra igual Deus abençoou
Mulher hoje em dia é independente se liga na situação
Tem muito marmanjo aí pilotando fogão varrendo o chão

Mulher hoje em dia não é mais a dona de casa que serve o machão
O homem que trai é um vacilão
É duro ficar cara a cara com o Ricardão

É inteligente, é tão competente, é eficiente
Mulher também sabe ser patrão
Mulher hoje em dia não tá de bobeira mais não
No legislativo, no executivo, no judiciário
Mulher tá batendo um bolão
Mulher hoje em dia não tá de bobeira mais não
É tão cuidadosa, é maravilhosa, é tão vaidosa
Nóis não vive sem ela não não não
Mulher hoje em dia não tá de bobeira mais não

Pois bem, não preciso dizer mais nada, a música já diz tudo.bjus!!!

Anônimo disse...

Olá Denise!! Adorei sua postagem sobre o filme Monella. Vi o trecho do filme e estou curiosa para vê-lo todo. Acredito que um filme como este,veio realmente derrubar alguns dogmas e pré-conceitos sobre o erótico na década de 20 e 30. Parabéns pela sua postagem!!!!Muito interessante!!!

Unknown disse...

Assisti apenas ao trecho do filme, que foi postado. Mesmo com todas as conquistas alcançadas pelas mulheres muita coisa ainda nos causa estranheza. A cena que mostra a personagem vestida com uma saia esvoaçante, andando de bicicleta, deixando à mostra seu bumbum, também causaria espanto nos dias de hoje. Imaginem na década de 20!
Lembrei-me de histórias que já ouvi em relação às moças daquela época. Minha avó conta que até a cor da roupa influenciava no conceito que as pessoas faziam sobre as moças recatadas. Ela nasceu em 1925 e diz que o pai não permitia a ela e as irmãs usarem roupas vermelhas.

Anônimo disse...

Nossa Luciana, se tiver oportunidade veja o filme. Eu o assisti essa semana e gostei... Denuzia, aquela cena dela c a saia se repete o filme inteiro. Ela usa blusas transparentes sem sutiã, ela senta de pernas abertas, ela mostra a calcinha e, às vezes, está sem calcinha. O interessante da jovem Lola é que ela “acha” q deseja todos! Ela gosta de se exibir, mostrar sem corpo. A atração é forte pelo namorado padeiro e pelo padrasto/pai dela. Dúvidas ficam no ar...
A narrativa do filme é realmente água com açúcar, mas faz a gente pensar. Será mesmo que Lola tinha esse fogo por sexo ou por se exibir? Bom, assistam o filme que vcs vão gostar. Com certeza o filme chocou a época, afinal não é só Lola que se mostra desse modo! Ah, e realmente não tinha lâmina de depilar naquela época. A menina era altamente peluda, incluindo as axilas. Visitem o meu post das Curiosidades sexuais: tricofilia e descubram mais sobre essa atração por pêlos. [kkkkkkkkkkk]

Menina Veneno disse...

"História da depilação:Na Grécia antiga era usado como instrumento para depilação uma varinha de 16 a 30 cm chamada estrigil. As mulheres entravam num banho quente antes da depilação, passavam uma pasta a base de vegetais e cinzas e depois retiravam raspando a pele com o estrigil. Nessa época já havia pinça para retirar os pêlos mais resistentes. As mulheres muçulmanas depilavam-se por achar que os pêlos tinham um aspecto sujo e maléfico. Existem várias técnicas de depilação disponível, cuja efeito varia de acordo aos diferentes casos. Mas, é certo que a depilação com cera é um dos sistemas mais utilizados na atualidade. As vantagens que a depilação oferece é que, na medida em que se realiza este tipo de depilação, o pêlo vai enfraquecendo cada vez mais, e podem passar até 5 ou 6 semanas – segundo a quantidade – para repetir. Convém que a depilação com cera seja realizada por uma profissional, assim assegurará um melhor resultado e com uma maior duração".(do site http://www.depilacaovenus.com.br/historia.php)

"Há tempos é natural que as mulheres procurem eliminar o excesso de pêlos e penugens, para fins estéticos (...) e para higiene pessoal. A história nos revela que em 1500 a.C. os homens já removiam os pêlos com um depilador feito de sangue de diversos animais, gordura de hipopótamo, carcaça de tartaruga e trissulfeto de antimônio.Os romanos também se referem a composições depiladoras, algumas das quais continham soda cáustica como destacado ingrediente. Cleópatra tirava seus tão indesejáveis pêlos com faixas de tecidos finos banhados em cera quente. Embora os depilatórios químicos sejam considerados uma invenção contemporânea, o processo para remoção dos pêlos através de decomposição química surgiu na Antigüidade. Na realidade, durante séculos seu desenvolvimento ficou adormecido e diversas outras alternativas foram introduzidas". (do site http://pt.wikipedia.org/wiki/Depila%C3%A7%C3%A3o)


COLEGAS, LEIAM O TEXTO DESTE BLOG, PORQUE ELE É MUUUUUUUITO INTERESSANTE!http://coisasdodiaa.blogspot.com/2007/06/era-uma-vez-uma-lmina-de-barbear.html

Littera Denutata disse...

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