30 novembro 2008

A Vênus das Peles e o Masoquismo



por Juliana Cristina Gonçalves

Masoquismo, assim como o termo sadismo, foi cunhado pelo psiquiatra Krafft-Ebing, em 1885, em seu livro Psicopatias sexuais. Este termo designa o desejo sexual relacionado a sofrer dor e a sujeitar-se ao outro. O psiquiatra inspirou-se no nome de Leopold Von Sacher-Masoch (Lemberg, 1856 – Mannheim, 1895), um grande escritor austríaco que estudou vários idiomas dentre eles o francês e escreveu obras onde se misturavam política, nacionalismo e erotismo, contudo suas obras mais conhecidas foram as de teor erótico. Fascinado desde criança por cenas de crueldade e execução, bem como por tudo que dizia respeito à Antiguidade Clássica, escreveu o livro que o consagrou como escritor erótico: A Vênus das peles, no qual Masoch narra a história de Severin, um homem que amava ser escravizado física e moralmente por sua amante Wanda.

Assim como Sade, Masoch também foi considerado um escritor maldito. Muitos críticos, dentre eles Flávio Carvalho Ferraz, reconhecem em A Vênus das peles muita semelhança com a vida de seu autor. Masoch, em 1869, quando contava 33 anos de idade, conheceu Fanny de Pistor, uma bela mulher nobre que o amava e propôs à dama que assinasse um contrato no qual estava registrado que ele seria seu escravo por seis meses. Ela deveria cometer com ele as maiores atrocidades que se possa imaginar, dentre elas, conseguir um amante que topasse açoitá-lo. Porém Fanny não era sádica, e sofria ao ter que proporcionar ao amado tais consternações. O contrato era para Masoch uma forma de reinventar as relações entre homem e mulher. Um pacto onde o prazer é obtido à custa do sofrimento. Para muitos, a elaboração dessa obra representa uma tentativa de recriar ficcionalmente as fantasias que o escritor não pode realizar com Fanny.

Como já foi dito anteriormente, em A Vênus das peles, Severin, o protagonista, adorava sofrer nas mãos de Wanda, a amante. Em um trecho desta obra denominado “O prazer na dor”, Wanda sai às compras e compra chicote e peles para satisfazer os desejos do amado, ela não gostava muito dessas práticas, mas, para agradar Severin, fazia o possível.

Durante todo esse trecho, Severin pede a Wanda que cause a ele sofrimento de alguma forma e para ser atendido usa expressões tais como: Expulse-me a pontapés; Quero ser seu escravo; Chicoteie-me sem piedade; Chicoteie-me, por favor. Para mim é uma delícia; Sou seu na vida e na morte, pode fazer o que quiser de mim; Pise em mim; Maltrate-me; Seja cruel comigo. Severin chega a dizer a Wanda que não se importa que ela tenha amantes, desde que ela não esconda dele se os tiver.

Segundo Ferraz (2008) a dor e a submissão declina o homem ao posto de escravo e é isso que o masoquista quer, entregar-se totalmente ao outro na intenção de mostrar-lhe que, como propriedade sua, está a mercê de seus desejos. O masoquista idealiza excessivamente seu amante, idolatra-o, atribui-lhe uma superioridade da qual resulta o prazer da submissão, a idealização do parceiro corresponde a idealização do próprio gozo. Não obstante, o masoquista é controlador da situação: aquele que faz o papel de tirano deve obedecer às fantasias do outro e é isso que Wanda fazia.

Segundo Deleuze, em seu livro, Crítica e clínica (1997), Masoch não seria apenas um pretexto para a psiquiatria. Para ele, se os personagens do masoquismo recebem esse nome porque adquirem na obra de Masoch uma dimensão desconhecida, sem medida que transborda o inconsciente, o herói do romance está inflado de potenciais que excedem sua alma. Portanto, o que é preciso considerar em Masoch são suas contribuições à arte do romance. Ainda seguindo as idéias deste autor, os atos masoquistas romperiam as ligações do desejo com o prazer. Sendo assim o prazer interromperia o desejo, de modo que a constituição deste como procedimento deveria conjurar o prazer e postergá-lo ao infinito. A onda demorada de dor disseminada pela mulher sobre o masoquista servir-lhe-ia para constituir um processo ininterrupto de desejo. O essencial vem a ser a espera ou o suspense como plenitude, como intensidade física e espiritual. Para Ferraz, é uma pena a obra de Masoch ser considerada pornográfica por alguns, pois uma obra tão bem elaborada deve ser considerada uma das melhores criações eróticas de todos os tempos.

Referências:

DELEUZE, Gilles. Reapresentação de Masoch. In: ______. Crítica e Clínica. São Paulo: Editora 34, 1997.

FERRAZ, Flávio Carvalho. Introdução a A Vênus das peles. Trad. Saulo Krieger. São Paulo: Hedra, 2008.

MASOCH, Sacher. O prazer na dor. In: COSTA, Flávio Moreira (Org.). As 100 melhores histórias eróticas da literatura universal. Rio de Janeiro: Ediouro, 2003. pp. 297-305.

4 comentários:

Unknown disse...

Eba,Eba!!!Eu fui a primeira!rsrs.
Bom até concordo que precisamos de algum fetich,um corpetes,meias de liga,uma batom bem vermelho,saltos altos e uma maquiagem bem
marcante,mas de vez em quando;agora bater ou humilhar outra pessoa não conseguiria e muito menos levar porrada.Parece que este é outro daqueles temas de que, todo mundo tem uma opinião,seja contra ou a favor, mesmo sem conhecer nada. Para alguém que goste da dor,ela é prazer. Se eu não gostar de carícias, elas para mim são dor. Se eu gostar de levar
chicotadas, elas para mim são prazer.Porém acho que o prazer na dor é uma pratica como outra qualquer e quem quiser que se dedique dela, o limite está em cada um de nós. Abraços!!!

Anônimo disse...

oi Juliana!!!

Masoquismo nao!!! Carinho sim!!! na verdade existem várias maneiras de se chegar ao prazer sem "dor"...

o corpo tem que se sentir bem!
porem um "tapinha" gostoso naquela hora... é logico que com amor e carinho nao vai nada mal, ne!?! kkkk

Mas nada que ofenda o sentimento de ninguem.

Ju, sucesso a você!!!
Parabens pela sua postagem!

bjoOO

Anônimo disse...

É Juliana, masoquismo mesmo. Achei muito bom seu texto. A gente que não se interessa por práticas assim fica um pouco “distante” qdo lê, mas sem dúvidas para algumas pessoas esse assunto é tratado com naturalidade. Eu acho interessante, e já convivi com pessoas que se diziam adeptos dessa prática, mas mesmo assim a distância predomina qdo nós não somos adeptos.
É interessante ressaltar que essa prática vem de séculos e mesmo assim ainda causa estranhamento nas pessoas. Se minha vó visse esse texto, por exemplo, ela ‘morrreria’...


PS: Adoreiiiiii o comentário da Rúbiaaa. hahahaha

Lucas Gilnei disse...

E aeh Jú.. ótimo texto. Será que vc gostou de conhecer essa prática? (não precisa responder..srsrs.. brincadeira, viu??) Blenda... bota distância, nisso, viu???... Cara.. sou adepto da chamada "zona de conforto"... dor jamé..kkk.. O negócio tem quer ser carinho e bejux..srsrsrs..
Grande abrç e férias para todos..ehehehhhh