Por Patrícia Mendes
A história contada nesse
conto é a de Maria Angélica de Andrade, uma senhora de 60 anos rica e viúva que
se apaixona por um jovem de 19 anos. Alexandre era entregador de produtos
farmacêuticos, jovem forte, alto e de grande beleza. Ela compra o rapaz em
troca de sexo e o transforma em seu amante. Nesse conto, percebemos a inversão
dos papéis do homem e da mulher, discordando da visão tradicional sexual de que o papel ativo
seja do homem e o passivo da mulher, onde o homem é que toma a iniciativa:
– Só deixo você sair se prometer que voltará! Hoje mesmo! Porque vou pedir uma vitaminazinha na farmácia...
Uma hora depois ele estava de volta com as vitaminas. Ela havia mudado de roupa, estava com um quimono de renda transparente. Via-se a marca de suas calcinhas. Mandou-o entrar. Disse-lhe que era viúva. Era o modo de lhe avisar que era livre. Mas o rapaz não entendia. [...] Levou-o a seu quarto. Não sabia como fazer para que ele entendesse.
Disse-lhe então:
– Deixe eu lhe dar um beijinho!
O rapaz se espantou, estendeu-lhe o rosto. Mas ela alcançou bem depressa a boca e quase o devorou (1998, p. 86).
A protagonista age de
acordo com o que sente, é movida pelo desejo, preocupa-se apenas em satisfazer
seu corpo, é ousada, não se importando com que os outros pensem dela, enfrenta
o medo e a vergonha, está apaixonada e acredita que é correspondida pelo
Alexandre.
Nesse
conto, Clarice
Lispector expõe o drama íntimo da mulher na velhice, a sua sexualidade e seus
desejos, que são encarados pela maioria das pessoas como inexistentes. Ao nos
depararmos com uma senhora em pleno vigor sexual isso nos causa estranheza,
pois estamos acostumados a associar o belo, o erótico com a juventude. É
interessante lembrar também que esse conto foi escrito na década de 70 quando a
repressão e o preconceito da sociedade eram maiores em relação a um romance
entre uma mulher mais velha e um jovem mesmo que por dinheiro.
Bataille,
em seu livro O erotismo (2004), nos fala que os seres humanos fizeram da
atividade sexual uma atividade erótica. Entendemos que as pessoas mantêm
relações sexuais e amorosas umas com as outras, e a atividade sexual é um dos
pontos principais para a existência, sendo o desejo uma experiência subjetiva e
que não acaba na velhice.
O conto
termina com uma Maria Angélica apática dizendo: “Parece – pensou – parece que
vai chover”, ao colocar um ponto final nas extorsões do amante.
Referências:
BATAILLE,
Georges. O erotismo. Tradução de Cláudia Fares. São Paulo:
Arx, 2004.
LISPECTOR,
Clarice. A via crucis do corpo. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.
BAILEY,
Cristina Ferreira-Pinto. O corpo e a voz da mulher brasileira na sua
literatura: o discurso erótico de Márcia Denser. Disponível em: http://www.cronopios.com.br
/site/ensaios.asp?id=128. Acesso em: 05 dez 2010.
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