Por Flaviane Tereza e Marília Nunes
Baseando-nos nas orientações teóricas de Octávio Paz
(1994), em A dupla chama: amor e erotismo,
e Michel Foucault (2004), em “Nós, vitorianos”,
faremos uma breve análise sobre o tema do Erotismo, e em seguida, analisaremos o conto “O
Internato” da autora Anaïs Nin (2005), observando seus aspectos eróticos.
Segundo Octávio Paz (1994), o erotismo que
verdadeiramente funciona e que faz perdurar a atração recíproca por longo tempo
está no olhar apaixonado e na admiração pelas qualidades que se consegue enxergar na pessoa amada. O erotismo está
mais no sugerir do que no mostrar totalmente, no claro-escuro, no mistério a
ser desvendado, na repetição do ato do amor como se fosse sempre a primeira
vez.
O sentimento é uma exceção dentro dessa grande exceção que é o erotismo
diante da sexualidade, mas é uma exceção que aparece, porém, em todas as
sociedades e épocas. Não há amor sem erotismo como não há erotismo sem
sexualidade, o amor por sua vez também é cerimônia e representação, mas é
alguma coisa mais: uma purificação que transforma o sujeito e o objeto do
encontro erótico em pessoas únicas. O amor é a metáfora final da sexualidade, a
sexualidade é animal, o erotismo é humano. Ainda segundo o autor, o encontro
erótico começa com a visão do corpo desejado, vestido ou desnudo o corpo é uma
presença, uma forma que, por um instante são todas as formas do mundo.
Essa questão do erotismo pela visão do corpo desejado
é presente no conto “O Internato” que está no livro Delta de Vênus:
histórias eróticas, da Anaïs Nin (2005) e conta
uma história que aconteceu em um internato para meninos, dirigido por padres
jesuítas. Entre esses padres, havia um que era meio indígena e que se excitava
com frequência ao observar os meninos, em especial, um lourinho com pele de
garota. No confessionário, esse padre fazia perguntas tão obscenas como: “já se
acariciou?”, “tem ereção?”, “já olhou outro menino nu?”, que logo os meninos
aprendiam sobre “sexo”. Esse fato exemplifica bem o que diz Foucault (2004)
sobre o papel da confissão para a construção de um saber sobre o sexo. Segundo
o autor, a confissão foi e ainda é a matriz geral que rege a produção do discurso
verdadeiro sobre o sexo, discurso este, em que se reconstitui o que foi feito
pela confidência dos prazeres individuais. Atiçados por tais perguntas, os
meninos começaram a sentir desejos sexuais e durante uma excursão, alguns deles
se perderam e entre eles estava o lourinho, que depois de algum tempo foi
jogado no chão e abusado sexualmente pelos outros garotos.
O conto apresenta várias cenas eróticas, como por
exemplo, o momento em que o padre ficava observando o corpo nu de um dos
meninos e também quando ele se excitava perante o lourinho. E assim percebemos
que o texto contém passagens explícitas e implícitas, que remetem à noção de
desejo e sexualidade reprimida, visto que o ambiente é um internato e, portanto,
eles não tem convivência com mulheres. A história é permeada por um cunho
religioso, um lugar opressor e cheio de regras, onde o corpo é visto como algo
do qual os meninos deveriam se envergonhar, porém, com o tempo, o que eles
aprendiam era a ter sonhos e pensamentos eróticos: “E sonhava que fazia
amor com vicunhas, e acordava todo molhado manhã após manhã.”
Segundo Octávio Paz (1994), a chamada literatura
erótica que se propõe a estudar o prazer, o corpo e suas expressões, ainda é
vista como algo desnecessário, que deve permanecer velado. O papel da
literatura erótica é muito mais do que simplesmente excitar o leitor. Ela
cumpre a função de fazer pensar sobre questões diversas do comportamento humano
no nível emocional, social e cultural. No conto em questão, a linguagem erótica
emite sentidos e idéias que nos remetem aos verdadeiros sentimentos e
necessidades daquele padre e principalmente daqueles meninos que, ao abusarem
do lourinho, experimentaram a sensação do prazer e da satisfação sexual.
Referências:
PAZ,
Octávio. A dupla chama: amor e erotismo.
São Paulo: Siciliano, 1994.
FOUCAULT,
Michel. História da sexualidade I: a
vontade de saber. Rio de Janeiro: Graal, 2001.
______.
Sexualidade e poder. In: ______. Ética, Sexualidade e Política. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2004. (Ditos
e Escritos V).
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