16 dezembro 2010

O erotismo no conto “O Internato”



Por Flaviane Tereza e Marília Nunes

Baseando-nos nas orientações teóricas de Octávio Paz (1994), em A dupla chama: amor e erotismo, e Michel Foucault (2004), em “Nós, vitorianos”, faremos uma breve análise sobre o tema do Erotismo, e em seguida, analisaremos o conto “O Internato” da autora Anaïs Nin (2005), observando seus aspectos eróticos.
Segundo Octávio Paz (1994), o erotismo que verdadeiramente funciona e que faz perdurar a atração recíproca por longo tempo está no olhar apaixonado e na admiração pelas qualidades que se consegue enxergar na pessoa amada. O erotismo está mais no sugerir do que no mostrar totalmente, no claro-escuro, no mistério a ser desvendado, na repetição do ato do amor como se fosse sempre a primeira vez. 

O sentimento é uma exceção dentro dessa grande exceção que é o erotismo diante da sexualidade, mas é uma exceção que aparece, porém, em todas as sociedades e épocas. Não há amor sem erotismo como não há erotismo sem sexualidade, o amor por sua vez também é cerimônia e representação, mas é alguma coisa mais: uma purificação que transforma o sujeito e o objeto do encontro erótico em pessoas únicas. O amor é a metáfora final da sexualidade, a sexualidade é animal, o erotismo é humano. Ainda segundo o autor, o encontro erótico começa com a visão do corpo desejado, vestido ou desnudo o corpo é uma presença, uma forma que, por um instante são todas as formas do mundo.

Essa questão do erotismo pela visão do corpo desejado é presente no conto “O Internato” que está no livro Delta de Vênus: histórias eróticas, da Anaïs Nin (2005) e conta uma história que aconteceu em um internato para meninos, dirigido por padres jesuítas. Entre esses padres, havia um que era meio indígena e que se excitava com frequência ao observar os meninos, em especial, um lourinho com pele de garota. No confessionário, esse padre fazia perguntas tão obscenas como: “já se acariciou?”, “tem ereção?”, “já olhou outro menino nu?”, que logo os meninos aprendiam sobre “sexo”. Esse fato exemplifica bem o que diz Foucault (2004) sobre o papel da confissão para a construção de um saber sobre o sexo. Segundo o autor, a confissão foi e ainda é a matriz geral que rege a produção do discurso verdadeiro sobre o sexo, discurso este, em que se reconstitui o que foi feito pela confidência dos prazeres individuais. Atiçados por tais perguntas, os meninos começaram a sentir desejos sexuais e durante uma excursão, alguns deles se perderam e entre eles estava o lourinho, que depois de algum tempo foi jogado no chão e abusado sexualmente pelos outros garotos.

O conto apresenta várias cenas eróticas, como por exemplo, o momento em que o padre ficava observando o corpo nu de um dos meninos e também quando ele se excitava perante o lourinho. E assim percebemos que o texto contém passagens explícitas e implícitas, que remetem à noção de desejo e sexualidade reprimida, visto que o ambiente é um internato e, portanto, eles não tem convivência com mulheres. A história é permeada por um cunho religioso, um lugar opressor e cheio de regras, onde o corpo é visto como algo do qual os meninos deveriam se envergonhar, porém, com o tempo, o que eles aprendiam era a ter sonhos e pensamentos eróticos: “E sonhava que fazia amor com vicunhas, e acordava todo molhado manhã após manhã.

Segundo Octávio Paz (1994), a chamada literatura erótica que se propõe a estudar o prazer, o corpo e suas expressões, ainda é vista como algo desnecessário, que deve permanecer velado. O papel da literatura erótica é muito mais do que simplesmente excitar o leitor. Ela cumpre a função de fazer pensar sobre questões diversas do comportamento humano no nível emocional, social e cultural. No conto em questão, a linguagem erótica emite sentidos e idéias que nos remetem aos verdadeiros sentimentos e necessidades daquele padre e principalmente daqueles meninos que, ao abusarem do lourinho, experimentaram a sensação do prazer e da satisfação sexual.




Referências:
 NIN, Anaïs. O Internato. In: ______. Delta de Vênus: histórias eróticas. Porto Alegre: LP&M, 2005.
PAZ, Octávio. A dupla chama: amor e erotismo. São Paulo: Siciliano, 1994.
FOUCAULT, Michel. História da sexualidade I: a vontade de saber. Rio de Janeiro: Graal, 2001.
______. Sexualidade e poder. In: ______. Ética, Sexualidade e Política. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2004. (Ditos e Escritos V). 

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